sábado, 9 de maio de 2009

Recordações de Angola - 16 (Fazenda Tabi)

(Por António Facas e Luís Marques)


Visita do General Joaquim da Luz Cunha, Comandante da Região Militar de Angola (RMA) e respectiva comitiva à 3º Companhia, na Fazenda Tabi e julgo que a todas as companhias do batalhão.
Como não podia deixar ser nestas ocasiões tudo foi limpo, “relimpo”, ensaiado e mais que ensaiado e até com vários ensaios gerais, como se faz no Teatro para que no dia da “estreia”, ou seja quando da visita, nada falhasse.
Não era excepção a Secção Auto, que estava situada num armazém da Fazenda, ao fundo, junto à fábrica do óleo (por coincidência foram as melhores instalações que a 3ª Companhia teve para funcionar a secção auto em toda a comissão). O espaço era amplo e era local onde se podia primar pela organização limpeza e arrumação. as viaturas. Estas, em contrapartida, eram autênticos chaços e, se me permitem, estavam uma merda, a caírem de podres. Fartámo-nos de trabalhar! Mas depois, que o digam os operacionais: quando faziam colunas com os “panhard’s”, os burros de mato “davam” 110 km/hora.





Quando chegámos à Fazenda Tabi, nenhum carro pegava com o motor de arranque. Daí a necessidade de usarmos guinchos e correntes para os pôr a andar


A parte dos combustíveis, não tinha qualquer condição de funcionalidade; era tudo manual o que não acontecia em Serpa Pinto (se bem me lembro era o ex soldado Deodato que fazia os abastecimentos e a recepção do combustível que nos eram fornecidos em bidões de 200 litros).
Fiz todos os possíveis para que tudo corresse bem, não podendo faltar nada que constasse das NEP´s (OS ESPECIALISTAS recordam-se como era?) porque sabia que os militares de carreira e outros se baseavam nas ditas para nos darem cabo da cabeça, “para eles eram autênticas bíblias”. Estava a oficina cheia de chassis de Unimog’s “411” (burros de mato) e um “404” os “maiores” que se encontravam em reparação.
A lavagem em chassis era feita na PRAIA com água salgada (depois no Tabi com água doce, claro). Aos fins de semana aproveitávamos para pescar. Alguém se lembra? Julgo que muitos de vocês se lembram.


O resultado de uma pescaria. O Tino (o peixe) o Lopes e o Facas



Os quatro magníficos: Carvalho, Facas, Fernandes e o emblemático Ramalho




A lavagem dos chasis das viaturas na praia, com água salgada, era um bom momento de descontracção. Depois, o embelezamento final da viatura era feito no quartel, com água doce

Tenho pena de não ter fotos do Unimog que tivemos dificuldade de tirar dentro de água devido à força das ondas e também pelo facto da maré estar a encher. Ainda pensámos em deixa-lo lá e voltar no dia seguinte quando a maré estivesse baixa. Ainda bem que não.

Mas voltemos à visita do General.
O pessoal, mecânicos e condutores, estavam impecáveis. As viaturas em reparação tinham as folhas de obra a indicar o serviço e efectuar e o já efectuado, materiais a aplicar e já aplicado, previsão de conclusão da obra, tipos de reparação por escalão (I – II - III), autorização de reparação etc., etc.
Chegou o General.
Depois do primeiro acto de apresentação e revista às tropas, o General perguntou-me: Nosso furriel qual a profissão que tinha, antes de entrar para o exército? já era mecânico? Eu respondi, não meu general era músico profissional. Diz o artista: Muito bem bem atribuída a especialidade do furriel ,porque o barulho da música está muito relacionado com o barulho dos motores. (gargalhada geral da comitiva). Resultado: levei, bem como o restante pessoal da “ferrugem ”um louvor no fim da comissão que nem vos digo nada. Só é pena que não se consiga perceber patavina do que está lá escrito...



A Secção Auto da 3ª Companhia

5 comentários:

Luís Marques disse...

Recordo-me bem da visita do General Joaquim Luz Cunha às várias Companhias do Batalhão 4611/72. Ela ocorreu (falo de memória…) em Março de 1974.
Segundo "eles" nos diziam, estas visitas serviam para "elevar o moral das tropas". Mas elas tinham precisamente o efeito contrário; eram uma autêntica seca, sobretudo devido ao aparato que lhes estavam associado e ao ar distante e "chicalhão" que tal gente punha sempre nessa visitas, que nos inculcavam um "temor" de que algo corresse mal e que por uma coisa mínima nos fosse dada uma “porrada” que nos lixasse as férias, ou ainda pior.
Estou convencidíssimo que qualquer de nós passava bem sem essas visitas.
No caso da C.C.S., a coisa não se passou de forma diferente: muitos ensaios, muito nervosismo generalizado, muita limpeza, etc., etc…
Uma coisa que nos desgostou imenso, foi a “piçada” que o tal general, carregado de superioridade, deu no nosso comandante de companhia o saudoso Capitão Ferreira Júnior (uma santa alma, que a esta hora deverá estar no céu a cuidar dos “seus” rapazes, os militares da C.C.S.), responsabilizando-o por toda e qualquer incursão dos “turras” em direcção a Sul, a Luanda. Os termos usados foram dignos de um militar de baixa estirpe e á frente de quase toda a Companhia. Assim se levantava o moral das tropas em combate…
Como resultado desse aviso, nunca mais a C.C.S. teve descanso. O capitão, temeroso das consequências, ordenou patrulhas diárias a quase todos os locais e buracos sob a sua jurisdição. O Pelotão de Reconhecimento e o de Sapadores bem suaram nos dias que se seguiram. Depois, veio Cabinda.

fmoreira disse...

Vocês se calhar já não se recordam mas muitos dos unimogs pegavam com um prego!!! O prego era a chave de ignição.
O pessoal auto que explique melhor o procedimento.

Luís Marques disse...

O Fernando Moreira é na verdade a "memória viva" da 3ª Companhia e, porque não dizê-lo, do próprio Batalhão de Caçadores 4611/1972. As coisas de que ele se recorda...
Esta da chave de ignição ser um prego (na grande parte das viaturas), como sabem é uma situação recorrente em quase todas as viaturas militares que utilizávamos daquele tempo.

caçador disse...

eu como soldado condutor sei muito bem disso estive em angola mas claro noutra época foi de 65 a 67 e claro vcs já pegaram os unimogs 404 nós pegamos aqueles jipoeis que para travar precisavamos bombear o pedal do freio umas 10 veses para parar era ruim de parar um carro daqueles mas depois viamos a luanda pegar acho eu que uns 8 unimogs e 3 berlietes que novas já eram umas merdas freibam bem mas eram muito pesadas e otolavam a toa lá ia o unimog rebocar a desgraçada seria melhor os generais comprarem gmcs novas pois seriam melhores do que essas berliets nao valiam porra nenhuma os unimogs eram bons mas tambem se comprassem jipois novos seriam melhor porque eram valentes e mais baixos e ai os soldados saltavam mais rapido e em caso de emboscadas era bem melhor era só

Unknown disse...

Nós também levámos com o general em 1972,em Zala.Não recordo pormenores.Pesquisando em : Zala Angola, Bart 3861, há um video intitulado : A visita do general. Eu também era do Pel. Rec.(radiotelegrafista) e fartei-me de saír.
Um abraço do ex-1º cabo nº 129940/72/3º turno de 1970, Artur Pereira. Encontrei o vosso blog ao pesquisar o nome do general. A nossa memória faz-nos destas.

BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72

BATALHÃO DE CAÇADORES 4611/72
conduta brava e em tudo distinta